O governo uruguaio anunciou que só resta 1,8% de água no reservatório Passo Severino, o maior e mais importante da capital uruguaia. A expectativa é de que em duas semanas a reserva fique totalmente seca.
Sem previsão de chuvas para os próximos dias, uma série de medidas foram colocadas em prática nas últimas semanas com o intuito de amenizar a situação, como a isenção de impostos para a água engarrafada e a distribuição gratuita para populações vulneráveis. Além da entrega gratuita de dois litros de água diários para 21 mil beneficiários.
Para o especialista Fernando Silva, sócio-fundador da PWTech, startup reconhecida pela ONU como uma referência no acesso à água potável em crises humanitárias, as ações parecem vagas e sem um plano estratégico efetivo. “Estamos falando de um recurso reconhecido como um direito essencial, fundamental e indispensável à vida com dignidade.
“A isenção de impostos e a disponibilização de dois litros de água diários para parte da população, não vai cessar todas as necessidades, que fogem da esfera do consumo e estão presentes na alimentação, higienização e saúde da população uruguaia”, diz o especialista.
A situação persiste desde meados de 2020 e já dificulta o fornecimento de água potável em Montevidéu e na região metropolitana, onde habitam cerca de 1,8 milhão de pessoas, mais da metade da população do país. O reservatório de Paso Severino – principal reserva de água doce da região – estava com 5% de sua capacidade em 29 de maio.
Diante da seca excepcional, a estatal decidiu, em 26 de abril, adicionar água proveniente da foz do rio Santa Lucía, salobra devido à proximidade com o estuário do Rio da Prata. Desde então, a água da OSE passou a apresentar níveis de até 440mg/l de sódio e 720mg/l de cloreto, muito acima dos regulamentos atuais, que estabelecem um limite de 200mg/l e 250mg/l, respectivamente.
As autoridades afirmam que o consumo é seguro, contudo recomendam que pessoas com doença renal crônica, insuficiência cardíaca, cirrose e grávidas a evitem, enquanto pessoas com hipertensão não devem beber mais de um litro por dia. De acordo com dados oficiais, este é o pior déficit hídrico desde o começo dos registros, há 74 anos.
A aposentada, Maria Esther Fernández, de 72 anos, disse, enquanto comprava água engarrafada em um supermercado de Montevidéu que, antes da seca, ela costumava beber água direto da torneira e não tinha gosto ruim. Hoje, a prática é considerada impraticável entre grande parte da população.
Para suprir as necessidades básicas, a população tem buscado outros meios para o consumo de água. De acordo com a Associação de Supermercados do Uruguai (ASU), a venda de água engarrafada triplicou no país. A situação também prejudica o bolso do uruguaio: um galão de 6,25 litros de água custa 130 pesos (16,60 reais, na cotação atual).
“É uma situação crítica, que pede por medidas emergenciais. O que aparenta é que se um grupo não tiver condições para bancar a água, ela sofre com o descaso público. Entre as providências que devem ser tomadas para mitigar a situação de seca, incluem ações de assistência e apoio aos produtores, destinação de recursos para sistemas de irrigação e reserva de água, e a criação de plataformas de monitoramento da crise hídrica”, complementa Fernando Silva