terça-feira, 26 de novembro de 2024 | 16:36:09

Por Eldo Pena Couto

Vamos abordar a saúde emocional dos profissionais da educação, que são importante referência para crianças e adolescentes cada vez mais estressados e/ou com problemas de aprendizado e comportamento. Falar disso é uma necessidade, diante dos efeitos do cenário pós-pandemia e em função do agravamento das divisões políticas e extremismos. Esses e outros fatores ligados às mudanças no papel do professor, aumento dos desafios nas interações com as famílias e das cobranças da nossa sociedade, tornam urgente discutir o tema.

Foi normatizado pelo sistema educacional que, além de transmitir conhecimento, o professor precisa participar da formação integral dos alunos, desenvolvendo as habilidades socioemocionais, além de atuar na mediação de conflitos e na educação inclusiva. Para isso, é preciso recorrer a estratégias e metodologias inovadoras. No entanto, muitas vezes ele não foi devidamente preparado, em sua formação, para tais demandas.

Em meio às novas exigências, também aumentaram os desafios na interação com as famílias. Muitos de nós, professores e pais dessa geração, estamos vivenciando a transição de uma sociedade que resolvia tudo num ritmo mais ameno para outra que experimenta um compasso mais acelerado em decorrência do avanço tecnológico. O livro “Sociedade do Cansaço”, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, descreve isso. Evidência que a sociedade do século XX, caracterizada por um sistema disciplinador repressivo, está sendo substituída pela “violência neuronal”, relacionada à busca pelo alto desempenho.

Em suma, a correria desenfreada e a pressão para resultados extraordinários afetam direta e indiretamente crianças e jovens. Tudo isso reflete em doenças psicológicas das famílias e deságua no relacionamento com a escola que, por sua vez, é feita por pessoas que também passam pelas mesmas questões.

Outro fator relevante é que os pais dos alunos que estão na Educação Básica pertencem a uma geração que lutou pela liberdade de escolha e de expressão. Ao mesmo tempo que rompem com as amarras de dogmas e constroem sua própria visão de mundo, sentem o peso das responsabilidades por suas escolhas. Antigamente, as coisas ruins eram atribuídas ao divino ou eram culpa do patrão ou do destino. Porém, em uma sociedade mais flexível como a atual, a responsabilidade recai ainda mais sobre os pais, e assumir as consequências disso não é fácil.

Assim, os adultos que hoje são pais e mães precisam se preparar melhor para um mundo exigente e em constante transformação, além de preparar seus filhos para cenários ainda mais incertos. É normal que se sintam vulneráveis nessa realidade e em relação à educação que devem proporcionar aos filhos. Esses sentimentos acabam minando a confiança na escola, dificultando o processo educacional e a necessária sintonia entre pais e instituição de ensino.

O professor que também está nessa geração, com tantas culpas e cobranças, precisa preparar o aluno para o amanhã que ele não consegue projetar, diferentemente dos mestres das gerações passadas. Soma-se a esse desafio a necessidade de preparar os alunos nos aspectos curriculares e na preparação para a vida. As incertezas e o medo de falhar tiram o sono e afetam a saúde emocional dos profissionais da educação.

É fundamental aos gestores escolares reconhecer a situação e, sempre que oportuno, esclarecer o contexto que muitas vezes fica despercebido. Devem acompanhar a relação família-escola e cuidar da saúde emocional da equipe. Cabe a eles deixar claro para os docentes que a escola é uma parceira, incentivando-os a arriscarem-se em novas metodologias e a se envolverem no trabalho socioemocional. A expectativa da escola é que os professores aceitem esse desafio, entendam seu novo papel e queiram acertar, mesmo que cometam erros nessa jornada inicial.

É essencial que gestores escolares, famílias e estudantes observem o cuidado emocional consigo mesmos e com os profissionais da educação. Um ambiente educacional saudável e acolhedor, que promova o desenvolvimento pleno dos estudantes, deve ser um compromisso coletivo.

*Eldo Pena Couto é especialista em psicopedagogia, mestre em administração com MBA em gestão empresarial e diretor dos Colégios Arnald