Durante o mês de outubro, alunos do 1º ao 3º ano do Ensino Médio da Escola Estadual São Luiz de Gonzaga, no bairro São Raimundo, zona Oeste de Manaus, tiveram um despertar muito especial. Eles participaram da oficina “Filme de 1 Minuto”, promovida pelo projeto social Identidade Manauara. Aprenderam que a 7ª arte, além ser um universo de imaginação, exerce um papel essencial como ferramenta crítica nos contextos social, cultural e educacional.

Viabilizada pela Lei Paulo Gustavo, a atividade contou com apoio do Ministério da Cultura, Conselho Estadual de Cultura do Amazonas, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC), Governo do Amazonas e apoio cultural o Portal DiaDiaAM.

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    Sob a coordenação do jornalista Paulo Moura, o projeto tem oferecido uma experiência audiovisual enriquecedora, combinando teoria e prática. A apostila foi adaptada à realidade dos estudantes. As oficinas valorizam a criatividade dos alunos, que desenvolvem suas próprias ideias sob orientação técnica.

    “As ideias originais partem deles mesmos, enquanto o oficineiro atua como um orientador, ajudando a lapidar os conceitos, sugerindo ajustes e aprimorando detalhes para fortalecer a narrativa e a estética das produções”, disse Paulo Moura.

    Produção com qualquer equipamento

    Durante a oficina, foram utilizados equipamentos com alta qualidade na captação de som e imagens, assim como pós-produção (edição e finalização) de primeira linha a fim de obter um produto bem-acabado. Mas os profissionais frisaram ao longo das aulas, que super câmeras, computadores avançados não superam a criatividade nem a sensibilidade para expor em vídeo uma ideia, um conceito em curto espaço de tempo.

    “Detalhamos para os alunos os planos cinematográficos utilizados em uma produção de cinema. Lendo a apostila, ouvindo as explicações e, principalmente, experimentando, eles passaram a fazer vídeos, colocando em prática a linguagem cinematográfica e usando seus próprios celulares nestas produções caseiras, mas com orientação de primeira linha”, disse a produtora Crislânia Belchior.

    Estrela no set/escola

    O projeto também contou com a participação do cineasta, produtor e oficineiro Diogo Ferreira, que há mais de uma década atua no setor de audiovisual em Manaus. O gaúcho tem se projetado nacionalmente e internacionalmente pelo trabalho junto a comunidades indígenas. A forma inclusiva de produzir curta-metragens, documentários e ficção, onde todos os envolvidos na produção opinam e participam da construção do material, levou a conquista de diversos prêmios.

    Para Diogo, as oficinas têm o poder de transformar trajetórias, especialmente com o apoio das plataformas digitais. “Com 10% de talento e 90% de esforço, a gente chega longe”, disse ao incentivar os jovens a persistirem nas produções. Recomendou ainda que os alunos participassem dos editais de estímulo a sétima arte oferecidos pelos Ministério da Cultura como forma de capitanear recursos para a produção dos filmes.

    Educação

    O gestor da escola, Otávio de Carvalho Vasconcelos, visualizou ganhos e conquistas pessoais para os alunos, que vão muito além dos conceitos e técnicas de produção. Os participantes da oficina, em sua maioria integrantes das classes sociais com menores oportunidade de acesso à cultura, já sonham com profissões que antes pareciam bem distantes do cotidiano dos moradores da periferia de Manaus.

    “Os alunos desenvolveram habilidades que vão além da sala de aula: aprenderam a pensar, criar e se expressar com uma linguagem que até então era distante deles. No início, alguns estavam receosos, sem saber o que havia por trás das câmeras. À medida que foram entendendo o processo de criação, se envolveram e se mostraram entusiasmados. Já tem aluno pensando em seguir carreira no audiovisual”, relatou o gestor.

    “Se um aluno sair daqui fazendo cinema, mesmo que de forma amadora, valeu a pena. É uma nova ferramenta na vida deles. E quem sabe, uma nova profissão”, comemorou Otávio Vasconcelos.

    Visão dos participantes

    Ana Clara Silva de Souza, aluna do 2º ano do Ensino Médio, ficou encantada com os bastidores. Ao observar a equipe em operação, identificou a aplicabilidade das lições no seu planejamento de ascensão pessoal e profissional. “Sempre gostei de assistir novelas, como Caminho das Índias. Ver como tudo é feito por trás das câmeras me surpreendeu. Aprendi que posso usar esse conhecimento até no meu dia a dia, nas redes sociais ou no trabalho”.

    A jovem acredita que o cinema pode ser uma ferramenta poderosa para superar etapas na advocacia. “Quero usar o audiovisual para divulgar meu trabalho, detalhar leis, criar vídeos explicativos, com uma linguagem que todo mundo entenda. Acho que posso ser uma advogada com uma visão cinematográfica”.

    Raymeson Reinaldo da Silva, 17 anos, estudante do 2° ano, entrou nas oficinas de cinema sem grandes expectativas. Mas ao ouvir as primeiras orientações, identificou-se e mergulhou de cabeça no conteúdo. Aprendeu sobre planos de gravação, movimentos de câmera, instrumentos técnicos e, principalmente, sobre escrita de roteiro — uma descoberta que o marcou. “Eu nem sabia escrever direito, mas achei muito legal escrever roteiro. Me inspirei nas séries que gosto de assistir”, disse o aprendiz de roteirista.

    O aluno, em duas semanas de oficina, aprimorou a percepção sobre a função do cinema. Não enxerga mais a arte como mero elemento de distração, mas como ferramenta de expressão, que pode levar a transformação social. “Um filminho de um minuto pode falar de causas importantes. E fazer a gente ser ouvido pela comunidade e pelas autoridades. A gente coloca na internet hoje e amanhã já pode ter milhões de visualizações. Isso ajuda a mudar uma realidade”, analisou Raymeson que iniciou a oficina timidamente, quase sem falar e terminou, sendo uma das grandes revelações do set de gravação.

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    Weliton Nunez, formado em Comunicação Social, acumula mais de 10 anos de experiência em assessoria de imprensa parlamentar e é especialista em estratégias políticas e marketing político.

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