Parintins (AM) – Com a cobertura completa do Portal Remador, diretamente da cidade de parintins, Boi Caprichoso apresentou, neste domingo (19/10), o tema oficial para o Festival de Parintins 2026, intitulado “Caprichoso – Brinquedo que canta seu chão”. O anúncio foi realizado no curral Zeca Xibelão, em Parintins, durante a festa que celebrou os 112 anos de fundação do bumbá azul e branco, reunindo milhares de torcedores, artistas, itens oficiais e amantes da cultura popular amazônica.
O evento, que começou ainda na noite de sábado e seguiu madrugada adentro, transformou o curral em um espetáculo de cores, tambores e emoção. Sob o som vibrante da Marujada de Guerra, com o público entoando toadas clássicas e segurando bandeiras azuis, o Caprichoso reafirmou mais uma vez seu papel como patrimônio imaterial da Amazônia e expressão viva da identidade parintinense.
Um tema que nasce do povo e canta suas raízes
O novo tema, “Brinquedo que canta seu chão”, propõe uma viagem poética às origens do Boi Caprichoso, resgatando sua criação como uma brincadeira familiar de fé e devoção, que, ao longo das décadas, se transformou em um símbolo coletivo de arte, resistência e amor pela Amazônia.
Em entrevista exclusiva ao Portal Remador, o presidente do Conselho de Artes do Boi Caprichoso, Erick Nakanome, explicou que o tema é uma ode ao povo e à história que moldou o bumbá.
“O Boi Caprichoso foi um sonho plantado na intimidade de fé de uma família que largou sua casa na busca por dias melhores. Migrantes, irmãos e sonhadores construíram seu brinquedo de pano para pagar uma promessa a um santo menino. Hoje, esse sonho já não é individual — tornou-se coletivo, e é comungado por toda uma comunidade amazônica. É arte que nasce da fé e se transforma em resistência”, destacou Nakanome.
Do brinquedo à entidade cultural
O texto conceitual do tema — também escrito por Nakanome — descreve o Caprichoso como uma entidade viva, feita de pano, suor e amor, que ultrapassou fronteiras e se tornou um talismã popular, carregado de significados simbólicos e afetivos.
“O brinquedo, feito de amor e pano, tornou-se talismã popular que atrai multidões por sua força e arte daqueles que brincam e amam. É arquétipo de sonhos e lutas, é amuleto de revolução de quem fez do brincar a guerra contra tudo aquilo que freia a evolução de um povo”, cita o texto.
O conceito reforça a relação espiritual e emocional entre o boi e o chão amazônico, retratando o Caprichoso como um canto que nasce da terra, dos rios e da alma do povo. “É no desejo de dias melhores que aquele brinquedo de cipó e sarrapilha, coberto de veludo preto, redefiniu sentidos e conectou gerações — tornando-se esperança, arte, cura e caminho”, descreve outro trecho.
Uma produção grandiosa e coletiva
O lançamento do tema foi marcado pela exibição de um vídeo conceitual produzido pelo Conselho de Artes do Boi Caprichoso, com direção e roteiro assinados por Erick Nakanome, Lucas Paulino e Kamila Paulino. O material mistura imagens simbólicas, depoimentos e performances artísticas, filmadas em locais emblemáticos de Parintins, como a Praça da Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, a Chácara Paraíso do Yukatã e o Parananema, casa tradicional que serviu de cenário para cenas que representam a origem afetiva do boi.
A trilha sonora do vídeo inclui toadas icônicas, como “Chamada do Boi” (Silvio Camaleão), “Escudeiros do Meu Boi” (Chico da Silva e Silvio Camaleão) e “Feito de Pano e Espuma” (Adriano Aguiar e Ronaldo Barbosa Júnior), interpretadas por grandes nomes da Marujada de Guerra. A narração é de Arlindo Neto, um dos artistas mais emblemáticos da história do bumbá.
O elenco de convidados inclui nomes tradicionais do boi, como Felipe Sicsu, Silvinho, Rubinho, Debrasa, Bacuri, Dionei Ferreira, Neide Viana, Josué Prata e Djard Vieira Filho, além da Raça Azul, grupo de torcedores que mantém viva a chama da paixão pelo Caprichoso.
A ficha técnica revela o envolvimento de mais de 30 profissionais — entre cinegrafistas, costureiros, figurinistas e produtores —, confirmando o caráter coletivo e comunitário da produção artística do boi.
“O Caprichoso é o chão, o canto e o coração da Amazônia. É arte viva que nasce do povo e volta para o povo em forma de emoção. O brinquedo que canta seu chão é a nossa forma de homenagear quem constrói o boi todos os dias, com fé e amor”, afirmou Nakanome.
112 anos de história e resistência cultural
Fundado em 1912, o Boi Caprichoso é uma das maiores expressões culturais do Norte do Brasil. Em seus 112 anos, o bumbá acumula títulos, revoluções estéticas e conquistas artísticas que consolidaram Parintins como um dos principais polos de produção cultural da Amazônia.
Durante a celebração, o público lotou o curral Zeca Xibelão, em uma festa marcada por homenagens, shows e apresentações especiais. Itens oficiais do boi, artistas plásticos, compositores e toadeiros participaram do evento, reafirmando o espírito de união e pertencimento que define o Caprichoso.
“Estamos celebrando mais do que um tema: estamos celebrando 112 anos de fé, cultura e resistência. O Caprichoso é o brinquedo que se fez arte, é o chão que se fez canto, é o povo que se fez lenda”, declarou um dos integrantes da Marujada de Guerra, sob aplausos do público.
Com o tema “Brinquedo que canta seu chão”, o Boi Caprichoso promete levar ao Festival de Parintins 2026 um espetáculo de poesia, ancestralidade e emoção, reafirmando seu compromisso com a defesa da Amazônia, da arte popular e das tradições que unem o povo azul e branco.