A resistência aos antimicrobianos (RAM) — fenômeno em que microrganismos deixam de responder a medicamentos antes eficazes — vem se consolidando como um dos maiores desafios à saúde pública mundial. Um estudo publicado na revista The Lancet revelou que mais de 1 milhão de pessoas morrem todos os anos, entre 1990 e 2021, em decorrência de infecções resistentes. O mesmo levantamento projeta que 92 milhões de vidas poderão ser salvas até 2050 caso medidas de prevenção sejam fortalecidas.

No Brasil, o cenário é agravado pelo uso inadequado de antibióticos e pela cultura da automedicação. Segundo o Ministério da Saúde, 34 mil mortes anuais já estão associadas à resistência antimicrobiana no país.

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    Dados do Conselho Federal de Farmácia (CFF) reforçam a gravidade da situação: cerca de 90% dos brasileiros tomam remédios por conta própria, e 24,5% deles admitiram ter usado antibióticos sem orientação no último ano.

    A farmacêutica Daniela Reis, da rede Santo Remédio, destaca que o uso incorreto desses medicamentos acelera o desenvolvimento de bactérias mais resistentes.
    “Quando um antibiótico é usado de forma inadequada, ele elimina apenas as bactérias mais sensíveis e permite que as mais fortes sobrevivam e se multipliquem. É como um processo de seleção natural”, explica.

    Semana Mundial busca alertar sobre riscos

    Entre os dias 18 e 24 de novembro, ocorre a Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência a Antimicrobianos, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A ação mobiliza profissionais de saúde, gestores públicos e instituições acadêmicas para orientar a população sobre o uso racional de medicamentos.

    O objetivo é reduzir a prescrição desnecessária de antibióticos e conscientizar sobre riscos da automedicação, prática que mantém o Brasil entre os países com maiores índices de uso inadequado desses produtos.

    Como prevenir a resistência antimicrobiana

    A prevenção depende tanto de atitudes individuais quanto de políticas públicas. Entre as principais recomendações, estão:

    • Evitar a automedicação e sempre buscar orientação de profissionais de saúde.
    • Manter todas as vacinas em dia, reduzindo o risco de infecções que poderiam exigir tratamento medicamentoso.
    • Praticar higiene correta das mãos e dos alimentos.
    • Descartar medicamentos vencidos em pontos de coleta apropriados, como farmácias.
    • Reduzir a exposição a infecções, especialmente em ambientes hospitalares, com o uso de máscaras e álcool em gel quando necessário.

    Uso correto dos antibióticos

    Antibióticos só devem ser utilizados quando houver prescrição médica e confirmação de infecção bacteriana. Eles não funcionam contra vírus, como os causadores da gripe, resfriados ou dengue.

    A especialista reforça que a interrupção de tratamentos é perigosa.
    “Suspender o antibiótico antes do prazo ou usar sobras de outros tratamentos compromete o efeito do medicamento e favorece a resistência. Em caso de dúvidas, procure sempre um farmacêutico”, orienta Daniela.

    Com o avanço da RAM, autoridades e especialistas reforçam que o uso responsável de medicamentos é fundamental para evitar um cenário de infecções cada vez mais difíceis de tratar — um risco real para o futuro da saúde global.

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