quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | 02:49:08

Uma equipe de cirurgiões transplantou o rim de um porco geneticamente modificado em um paciente vivo, um novo passo em direção a uma possível solução para a escassez crônica de doações de órgãos.

O paciente, um homem de 62 anos, sofria de insuficiência renal crônica. “Ele está se recuperando bem” da operação de quatro horas realizada no sábado, informou o Hospital  General Massachusetts, em Boston (nordeste).

“O procedimento representa um marco importante na tentativa de fornecer órgãos mais facilmente disponíveis aos pacientes”, acrescentou em comunicado.

Rins de porco já foram transplantados em pessoas com morte cerebral e funcionaram. No passado, pacientes vivos também receberam transplante de coração de um porco geneticamente modificado, mas morreram.

Os médicos “me explicaram detalhadamente os prós e os contras do procedimento”, disse o paciente, Richard Slayman, da cidade de Weymouth, em Massachusetts, citado no comunicado.

“Vi isso como uma forma não só de me ajudar, mas também de dar esperança a milhares de pessoas que precisam de um transplante para sobreviver”, acrescentou.

Deve poder deixar o hospital “em breve”, diz o comunicado. O paciente já havia recebido um transplante de rim humano, mas isso não o impediu de retomar a diálise a partir de maio de 2023.

Mais de 100 mil pessoas aguardam um transplante de órgão nos Estados Unidos, especialmente um rim.

“Nossa esperança é que este método de transplante ofereça uma salvação para milhões de pacientes em todo o mundo que sofrem de insuficiência renal”, disse o doutor Tatsuo Kawai, membro da equipe que realizou a operação.

Esforço de décadas

O campo dos xenoenxertos (transplantes de órgãos de animais para humanos) avançou rapidamente nos últimos anos. Em setembro de 2021, cirurgiões do Hospital Langone, em Nova York, realizaram o primeiro transplante de rim de porco do mundo em uma pessoa com morte cerebral.

O rim foi fornecido pela empresa eGenesis.

Esta operação “representa uma nova fronteira na medicina e demonstra o potencial da modificação do genoma para mudar a vida de milhões de pacientes em todo o mundo que sofrem de insuficiência renal”, disse Mike Curtis, diretor da eGenesis.

Os xenoenxertos representam um desafio porque o sistema imunológico do receptor tende a atacar o órgão estranho.

As modificações genéticas são realizadas para reduzir o risco de rejeição: eliminam alguns genes suínos e acrescentam genes humanos por meio da tecnologia CRISPR.

Os cientistas também realizaram uma “inativação do retrovírus” do porco para eliminar o risco de infecção após o transplante, explica o comunicado.

“O sucesso deste transplante é o resultado dos esforços de milhares de cientistas e médicos ao longo de décadas”, disse Tatsuo Kawai, cirurgião do Hospital Geral de Massachusetts.