sexta-feira, 29 de novembro de 2024 | 08:43:05

No Brasil, uma pessoa com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) diagnosticada aos 10 anos de idade perde de 32 a 48 anos saudáveis de vida, a depender do estado onde vive. De acordo com a organização sem fins lucrativos JDRF International, a média do país é de 38 anos saudáveis perdidos por pessoa com DM1. O indicador “anos saudáveis perdidos” refere-se aos anos perdidos em qualidade de vida, devido ao tratamento, às complicações da doença, e ao encurtamento da expectativa de vida, ou seja, a morte prematura das pessoas com DM1. Conforme a pesquisa, deveriam estar vivas, em 2022, 464 mil pessoas que faleceram prematuramente por complicações derivadas do DM1. Atualmente são 559 mil pessoas com DM1 no Brasil, quando, na verdade, deveriam ser mais de um milhão de pessoas vivas com essa condição.

As informações foram divulgadas durante o evento online “Diabetes no Brasil: Desafios e Estratégias para Mudar o Cenário”, promovido pelo Fórum Intersetorial para Combate às Doenças Crônicas não Transmissíveis no Brasil (FórumDCNTs). Obtidos pelo T1D Index, ferramenta de simulação que mediu o impacto da condição na saúde pública de 201 países, os dados atualizam informações anunciadas em setembro de 2022, as quais integram um dos maiores estudos epidemiológicos mundial sobre DM1. Ajustes na plataforma resultaram em números mais precisos. À época, os cálculos não levaram em conta as desigualdades regionais do país.

O T1D Index usou para o novo cômputo as taxas de incidência, diagnóstico e mortalidade, as quais variam substancialmente de um estado para o outro. “Dentre os fatores que levam à essa disparidade está a diferença nas intervenções públicas em saúde. Impactam na qualidade e expectativa de vida da pessoa com DM1 o nível de apoio aos autocuidados, o acesso às tiras para medição da glicemia e a quantidade diária recebida, bem como a disponibilidade de insulina e o tipo dispensado”, analisa Thomas Robinson, vice-presidente de acesso global da JDRF International. “As ações e o alcance da saúde pública não são os mesmos em ambientes urbanos e rurais, ou em capitais e cidades distantes delas”, completa.

O T1D Index também possibilitou simulações, no contexto brasileiro, dos efeitos, na saúde individual e coletiva, de diferentes intervenções públicas para o cuidado da DM1. De acordo com o simulador, uma pessoa com dez anos de idade e DM1 sem o diagnóstico morreria em poucos meses. Já uma pessoa com diagnóstico aos dez anos e recebimento de duas tiras para glicemia por dia (a média da quantia oferecida pelo SUS) e suprimento estável de insulina humana tenderia a viver 49 anos. Os resultados melhoram progressivamente à medida que aumenta a quantidade de tiras fornecida e, ainda, conforme o tipo de insulina dispensado.

Assim, a expectativa de vida é de 52 anos se, além de duas tiras, a pessoa com DM1 for tratada com insulina análoga ao invés da humana. Com cinco tiras por dia e insulina humana, a média sobe para 58. Com cinco tiras por dia e insulina análoga, a expectativa de vida é de 61 anos. Caso o usuário receba insulina análoga e dispositivos de monitorização contínua de glicose ou bombas de infusão no lugar das tiras, a expectativa é de 65 e 71 anos, respectivamente. “Trata-se de uma relação de custo-efetividade que vale a pena”, argumenta Robinson. “O primeiro grande objetivo do Brasil deveria ser oferecer análogos de insulina e cinco tiras por dia a todos os usuários com DM1. O segundo, diagnosticar mais pessoas”, recomenda. Estas duas tecnologias já estão incorporadas ao SUS, mas nem todas as pessoas têm acesso a elas.

Brasileiros com diabetes ou pré-diabetes ultrapassam os 32 milhões

Segundo a Federação Internacional de Diabetes, o Brasil é o sexto país em número de pessoas com a condição no mundo, atrás da China, Índia, Paquistão, Estados Unidos e Indonésia. De 2013 para 2019, houve um aumento de 36,5% da prevalência do diabetes no país. “Os dados mais recentes indicam a existência de mais de 32 milhões de brasileiros com diabetes ou pré-diabetes. Por outro lado, apresentamos um alto investimento econômico per capta em comparação com os demais países que possuem grande prevalência de diabetes. Nossa expectativa é de que esses recursos sejam utilizados da melhor maneira possível”, ressalta o Dr. Mark Barone, coordenador geral do FórumDCNTs. Ele observa que 31,9% dos 15,7 milhões de pessoas com diabetes no Brasil ainda não foram diagnosticados.

Sobre o evento

Os números apresentados mostram a relevância do painel “Diabetes no Brasil: Desafios e Estratégias para Mudar o Cenário”, realizado pelo FórumDCNTs. O encontro reuniu representantes de sociedades de especialidades médicas, associações de pessoas com diabetes, administração pública em saúde e indústria farmacêutica. O seu principal objetivo foi o engajamento das principais instituições dos diferentes setores da sociedade, representadas pelas autoridades presentes, em ações nacionais que melhorem efetivamente o panorama atual. A ideia foi compreender discutir o diabetes no Brasil em sua integralidade, considerando, no âmbito do SUS, as realidades dos usuários, profissionais de saúde e gestores.