terça-feira, 26 de novembro de 2024 | 21:45:39

Nos últimos anos, tem se ampliado o debate sobre bem-estar e qualidade de vida no trabalho. Com a mudança para modelos de produção mais flexíveis, as pesquisas apontam o quanto esse fator vem sendo cada vez mais importante para os talentos – e por consequência, para as empresas.

Um estudo lançado no início de 2023 pela Randstad, multinacional do setor de recursos humanos, apontou que 94% dos trabalhadores entrevistados consideram importante ter equilíbrio entre vida pessoal e trabalho; e 61% deles recusariam uma oferta de emprego se acreditassem que esse equilíbrio seria prejudicado.

Essa tendência de maior preocupação com a qualidade de vida no trabalho vem ganhando força na atualidade, impulsionada por diversos fatores que impactam a vida dos trabalhadores em diferentes níveis. 

A saúde mental tem sido um dos principais pilares para o crescimento de importância da qualidade de vida no trabalho. O estresse, a ansiedade e a sobrecarga têm sido cada vez mais comuns na rotina profissional, e os impactos negativos dessas condições no bem-estar dos trabalhadores são evidentes. Com a pandemia de covid-19, o cenário se agravou, com muitos profissionais enfrentando o isolamento social e o desafio de conciliar vida pessoal e profissional. 

Além dos aspectos relacionados à saúde mental, a falta de qualidade de vida no trabalho também pode impactar a saúde física dos profissionais. Jornadas extenuantes, sedentarismo e ambientes inadequados podem causar problemas de saúde a longo prazo, como dores musculares, doenças cardiovasculares e obesidade. Portanto, empresas que oferecem estruturas e políticas que incentivem a atividade física, pausas regulares e boa ergonomia saem na frente quando a questão é bem-estar.

“Nesse cenário, algumas empresas começaram a usar a saúde mental e a ergonomia como argumento para retornar ao trabalho presencial. Mas isso pode ser uma meia verdade”, aponta Daniel Santa Cruz, sócio da Santo Caos, consultoria de estratégias humanas e organizacionais.

Ao menos em setores como o de tecnologia, os profissionais não parecem concordar tanto com a ideia de que o retorno ao trabalho presencial seria positivo para a saúde física e mental. Um estudo da startup Revelo demonstra que 79% dos colaboradores entrevistados prefeririam pedir demissão a perder o benefício do home office. 

Já na visão da liderança, esse cenário parece não ter um apelo tão positivo. Uma pesquisa da plataforma Fiverr apontou que dois terços dos executivos querem que seus funcionários retornem ao trabalho presencial de forma integral.

Ainda assim, parece haver também empresas que veem a qualidade de vida no trabalho como uma estratégia eficiente para a retenção de talentos. “É possível perceber que modelos alternativos e mais flexíveis de trabalho estão sendo cada vez mais adotados, e com melhores resultados”, afirma Daniel Santa Cruz, da Santo Caos.

Segundo o especialista, profissionais tendem a valorizar organizações que se preocupam com seu bem-estar e estão dispostos a permanecer em ambientes onde se sintam mais felizes e realizados. E na busca por atrair e reter talentos, algumas empresas também têm buscado oferecer benefícios que possam diferenciar a organização frente aos seus concorrentes, fortalecendo assim a chamada marca empregadora ou employer branding.

Além desses aspectos de saúde e flexibilidade, as empresas também observam questões etárias como fatores importantes. Afinal, as novas gerações têm se mostrado mais exigentes em relação ao ambiente de trabalho, buscando empresas que se alinhem com seus valores e proporcionem um equilíbrio entre vida pessoal e carreira. 

Dados coletados pelo Ministério do Trabalho em 2020 apontam que cerca de 25% dos jovens entre 18 e 24 anos, pertencentes à chamada Geração Z, permanecem por menos de três meses em média dentro de uma empresa. Conhecido em inglês pelo termo “job hopping”, ou “pular de emprego”, esse fenômeno tem sido cada vez mais comum. E entre as razões apontadas para isso, está a busca pela qualidade de vida no trabalho.

“No meu primeiro emprego, eu fiquei um pouco menos de seis meses. Quando percebi que o stress era muito grande, comecei a buscar outras oportunidades. Não penso em fazer carreira num lugar só”, conta João Vitor, 22 anos, que já trabalhou em call center, foi atendente numa rede de fast food e agora estuda para ser programador. 

Seja por fatores geracionais, de saúde ou simplesmente por uma mudança de prioridade dos profissionais, a qualidade de vida no trabalho parece ser um assunto que veio para ficar.