quarta-feira, 27 de novembro de 2024 | 13:48:33

O maior festival hacker da América Latina, o Roadsec, bateu recorde de público e teve mais de 7.200 participantes. A participação feminina na edição de 2023 foi de mais de 17% do total de pessoas que acompanharam as mais de 100 atividades, distribuídas em 8 eixos temáticos e acontecendo simultaneamente em 10 palcos. Nesta edição do evento, 51% das palestrantes foram mulheres, um aumento de 15% em relação ao evento de 2022.

A grande vencedora do campeonato CTF (Capture the Flag) foi uma mulher, Emily Souza. CTF é um tipo de competição de cyber security em que os participantes competem para encontrar e explorar vulnerabilidades em sistemas com o objetivo de encontrar e “capturar” uma bandeira (flag).

“Foi uma sensação de nervosismo e felicidade, tinha muita gente boa competindo, apesar de ser uma área majoritariamente masculina, acredito que todos que participaram se esforçaram bastante para aprender skills técnicos e isso trouxe os resultados que vimos na competição”, relata Emilly Souza. Ela acredita que as mulheres têm ganhado cada vez mais espaço na tecnologia, incluindo a área de segurança. E que no futuro teremos um número maior de mulheres atuando com segurança ofensiva.

Em um mercado ainda dominado pelos homens, o interesse e a entrada de mulheres na área tem se revelado otimista. Como aponta pesquisa da Catho, a presença feminina nos cargos de tecnologia aumentou 2 pontos percentuais em 2022, passando para 23% dos postos nesse setor.

As palestrantes mulheres abordaram diversos temas, desde assuntos do eixo Ataque até conteúdos de Back-end durante o evento.

Giulia Bordignon, desenvolvedora Sênior C# e palestrante do eixo back-end, destacou a importância da presença feminina no mercado de cyber security. “Eu sou muito otimista com o futuro e as mulheres na área, eu sempre falei de diversidade e de promover um ambiente diverso. Quando eu comecei eu estava sozinha e hoje percebo o quanto é importante um evento como este ter mulheres como palestrantes, gerar empoderamento, representatividade. Estou muito feliz com o que vi aqui frente a este desafio que é inserir mais mulheres nesse mercado”.

Adriana Saty, Criadora de Conteúdo na WebSaty, foi um dos destaques no palco principal e reforça que hoje tem muitas mulheres liderando comunidades de tecnologia. “Eu fico muito orgulhosa e feliz em ver como as mulheres estão cada vez mais representando e trazendo um lugar de conforto para outras mulheres começarem seu caminho e entrarem na tecnologia”, afirma Saty.

Público jovem predominou o evento

Os participantes que acompanharam a extensa programação do Roadsec eram, predominantemente, pessoas de 21 a 30 anos (+41%). Outro dado traduz também a potência do evento: foram mais de 1,2 toneladas de alimentos arrecadados através de ingressos solidários para a ONG Casa de David.

O evento, que caminha para a sua 10º edição, atraiu pessoas de diversas regiões do Brasil, que se deslocaram para acompanhar a diversidade de opções de atividades e oportunidades de networking. George Luis Azevedo Santos é um dos que enfrentaram algumas horas de viagem para prestigiar o evento.

“Se trata primeiro de networking, ter novos contatos aqui dentro. Mas também mais conhecimento do avanço que a tecnologia está trazendo para a nossa área e como as empresas estão buscando se especializar. Se eu já tivesse participado desse evento antes, acredito que estaria mais engajado e mais enquadrado para o mercado de trabalho hoje”, afirma George.

Mercado brasileiro de tecnologia está aquecido

Além das atividades para todas as áreas de interesse dentro do universo hacker e ativações, o evento contou com empresas que também ofertaram vagas em seus times, que continuam abertas e podem ser acessadas pelo site. Foram mais de 50 vagas especializadas ofertadas durante o evento, além das vagas que já estavam abertas nestas empresas.

A empresa NTT Data esteve presente no evento com 6 vagas especializadas. A intenção da empresa em participar era de recrutar pessoas e oferecer orientações para carreira, uma vez que grande parte dos participantes estão na fase inicial da trajetória profissional e uma vertente forte de atuação da empresa é com capacitação.

O gerente sênior de RH da NTT Data, Rafael Gonçalves, conta que essa foi a segunda participação da empresa no evento e que, no ano anterior, algumas pessoas que passaram pelo estande da NTT Data entraram em programas de estágio da empresa; a expectativa é que o movimento se repita esse ano.

“Fazer o employer branding dentro do Roadsec para a gente é muito importante porque a gente se posiciona, principalmente como uma empresa que se preocupa com segurança da informação”, comenta.

Ainda como observou Rafael, o mercado brasileiro está defasado em relação à quantidade de profissionais prontos para atuar na área da tecnologia. A tendência é que esse cenário se mantenha, como aponta estudo da Brasscom, que indica uma demanda de quase 800 mil funcionários até 2025. Esse fato se confirma pelo levantamento do Fórum Econômico Mundial que traz a profissão de analista de segurança da informação e especialista em IA como uma das profissões com maior potencial de crescimento.

O CEO e idealizador do evento, Anderson Ramos, destacou como a demanda por trabalhadores de tecnologia ficou reprimida devido à pandemia. Além disso, pontuou que a segurança é essencial, assim como uma gestão de riscos para as empresas; portanto, se o risco aumenta, a demanda também segue a mesma linha.

“Eu sempre digo que primeiro a gente constrói uma ‘comunidade’, depois um evento e talvez você construa um modelo de negócio. No caso do Roadsec, nesses quase 10 anos, acredito que endereçamos bem o primeiro ponto em criar esta comunidade”, afirma o CEO.